A coisa começou por ser uma brincadeira. Depois surgiu o convite. Ajustados todos promenores cá em casa, decidi aceitar o convite e, há hora marcada lá estava eu, devidamente equipada. Ténis apropriados, boné, mochila (com água, fruta, alguma comida e um agasalho) e, sobretudo com muito boa disposição.
Do grupo, apenas conhecia quem me convidou. Tudo gente muito mais nova do que eu, cheios de vida e boa disposição. Duas qualidades que eu aprecio particularmente.
Foram quatro horas maravilhosas, numa partilha de brincadeiras, gargalhadas, considerações. Caminhar por entre a natureza, por trilhos que nos mostram belezas escondidas, para a grande maioria que, por desconhecimento e uma certa inércia, não se aventuram a percorrer, com pessoas que fazem do companheirismo e do respeito pelos outros e pelo ambiente que nos rodeia, o seu lema, deixou-me feliz.
No programa, estava previsto, no final da caminhada, um mergulho. Rumamos à zona balnear. Estava mesmo a apetecer um mergulho naquele mar, naquela água fresca e transparente.
Enquanto olhava à volta, à procura de sítio para estender a toalha, ia descendo uns degraus... Cabeça no ar, sede demar, muita sede do meu mar, não vi onde punha os pés e... torci o pé esquerdo em cima de uma pedra. Sentei-me agarrei-me ao pé, movimentei os dedos. Tudo bem! Movimentos sem dor.
Mar... mar... mar! Nadei, refresquei o corpo e a mente. À saída da água o pé doeu um pouquinho... não liguei muito. Mas, de volta ao carro, conduzir até casa foi doloroso.
Já em casa, um banho quente, um jantar leve e sentia-me pronta para mergulhar no sofá, quando o pé voltou a doer. Gelo! Gelo! Muito gelo!
Durante a noite voltei a fazer gelo...
Ao acordar, não tinha dúvidas:de uma ida ao Centro de Saúde, não me iria livrar.
Após exame por parte da médica e uma visitinha ao radiologista, saí de cadeira de rodas (ah! pois é!) e, com o meu pézinho de cinderela transformado num pé e gigante.
Conclusão: "férias" forçadas! Entre 2 a 3 semanas de mergulhos divididos entre a cama e o sofá... Músculos trabalhados na perfeição. Sim, porque isto de andar de pé coxinho e de canadianas, dá músculo... Oh! se dá!
Partiu! Ontem à noite. No Porto.
A luta foi grande. Nunca baixou os braços.
Quando em Abril de 2008 sofreu a primeira convulsão, ninguém previra um desfecho destes. Após alguns exames, consultas com diversos especialistas, deslocações ao Porto, Lisboa e até a Espanha, o diagnóstico foi confirmado: cancro. De uma forma algo fria, informaram a família que o tempo de vida seria curto: seis meses; só por milagre viveria até ao Natal. Viveu para além daquele, mais um Natal.
Pediu para voltar para a terra que escolheu como sua. Realizou dois sonhos muito importantes para ele: casou com a mulher que amava e construiu e ainda viveu na casa que desejou.
A cada dia vivido, era uma etapa vencida, oferecia-nos sorrisos e confiança. E nós ofereciamos-lhe o carinho, o afecto, beijinhos e abraços, aos quais ele se agarrava e nos quais se sentia confortado.
Obrigada Vêvê por tudo o que me deste, por tudo o que me ensinaste! Obrigada Vêvê pelo ser humano que soubeste ser, sempre.
Logo que possa, vou até ao "teu mar" e lá falarei contigo. Teremos uma conversa só nossa...
Até sempre Vêvê!!!
E pronto...
Queria ir à queima das fitas! E queria não estar triste! E queria receber um abraço! E queria sentir-me bem! E queria estar longe dos problemas que me cercam! E queria caminhar de cabeça erguida! E queria estar feliz! E queria afastar-me deste buraco negro que tanto me atrai! E queria voltar as costas ao abismo, aqui mesmo à minha frente! E queria parar de chorar! E queria... queria tanto estar em Paz comigo!
Quinze cravos, vermelhos!
Os teus preferidos.
Um por cada ano da tua ausência... PAI!
Que dizer-te neste dia? Nada do que diga ou pense poderá acalmar a dor que sinto, nem impedir que as lágrimas, rolem uma atrás da outra, pela minha face, numa corrida desenfreada, e desmaiem no azul turquesa da minha camisola, conferindo-lhe um tom mais escuro.
Sinto, em cada dia que passa, a tua ausência. É uma dor que não passa...
AMO-TE MUITO, PAI!
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