Gostei da ideia. Fez-me recuar aos meus primeiros anos de vida em que sempre que a Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian, visitava a freguesia e, estacionava em frente à escola primária, era dia de festa.
Tínhamos todos um cartão com o nosso nome e um número.
Alinhavamos em frente à porta da carrinha e aguardávamos impacientes pela nossa vez.
Eram tantos os títulos, autores e temas, que por vezes ficávamos indecisos.
Levamos para casa os livros requisitados e líamos tudo de fio a pavio, para que quando a carinha voltasse, nós já os tivéssemos lido. Quando isso não acontecia, os senhores responsáveis, deixavam-nos voltar a requisitá-los.
Foi nessa altura que compreendi o verdadeiro valor de um livro. E a grandeza do gesto e da palavra "emprestar".
Curioso mesmo, é o facto da responsável pela Cultura, na Região Autónoma dos Açores, ter recuperado a ideia e, ter anunciado que a partir do próximo ano, haverá Biblobus, a visitar as zonas rurais do arquipélago.
Bem haja!
Se as crianças e jovens souberem aproveitar, como eu aproveitei, haverá por certo, muitos mais livros a serem lidos e quem sabe, outros temas a serem discutidos.
Confesso que não gostei, quando em 1986 fui obrigada a ir trabalhar para a Ilha do Faial, por seis semanas, Mas não havia escapatória possível. Eu era a funcionária mais nova do sector e no sector, portanto...
Como o período de permanência na ilha do Faial, seria longo demais para uma estadia num hotel, optei por ficar alojada na casa de uma amiga, fruto das férias de verão da minha infância e adolescência.
Apesar de desconhecer o ambiente familiar, gostei do quarto que me tinham preparado e sobretudo dos livros que estavam na estante aos pés da cama.
Ávida por um bom livro, deparei-me com um cujo título era por demais sugestivo mas, de uma escritora completamente desconhecida para mim.
Movida por um espírito entre anarca e utópico, "Anarquistas Graças a Deus", seduziu-me de imediato. Era um livro de memórias da própria escritora. Fiquei presa aquela leitura e já não me apeteceu sair do quarto. Recordo com emoção "seu" Ernesto e Dona Angelina, a luta dos imigrantes italianos, portugueses e espanhóis, na cidade de São Paulo.
Mais tarde, procurei e encontrei outros livros dela. "Um Chapéu Para a Viagem", "Jardim de Inverno", "Senhora Dona do Baile", "Chão de Meninos", entre outros, trouxeram emoções, em forma de escrita, aos meus retiros de leitura. Com eles conheci melhor "seu" Jorge (Jorge Amado), marido da escritora, ou melhor memorialista (como gostava de ser chamada), os filhos, os amigos (alguns faziam parte do meu imaginário, como sendo inatingíveis e, ela conhecia-os. Eram amigos!). Conheci, também, alguns países de leste, algumas cidades europeias, lugares pequenos, odores e aromas e sobretudo amor, vida e cor.
Zélia, menina atrevida, como lhe chamava Dona Angelina, partiu, sábado, 17 de Maio de 2008. Manteve até ao fim, apesar de se encontrar hospitalizada, o seu espírito comunicativo e o bom humor.
Foram, sem sombra de dúvida, 91 anos vividos, com aquela intensidade que a vida merece ser vivida.
OBRIGADA por tudo o que me deste, sem saberes que o fazias.
O livro, meu amigo de sempre. Só não nasci com um nas mãos. Cresci, sempre com um ao meu lado. Primeiro as imagens sugestivas e coloridas, as letras grandes e as frases curtas. Depois, textos mais elaborados, imagens mais pequenas, até que as imagens desapareceram. Não havia ilustrações. Ou melhor havia, todas aquelas que o autor me conseguia transmitir e às quais o meu espírito dava vida.
Não viajo sem um livro (ou dois). E são também eles que levam a viajar. Tenho visitado locais, países inesquecíveis com e através deles.
Faço deles um instrumento e companheiros de vida e crescimento.
Com eles, sentada sob uma árvore , elevei os meus filhos, a um mundo de fantasia e felicidade. deles retirei ideias para brincarmos.
A partir deles reconheci desejos e vontades minhas e não só, fiquei sensível a aspectos, factos e realidades, até então desconhecidas.
Que melhor homenagem, posso prestar aos meus amigos livros e seus autores, do que esta de reconhecer o quanto me têm dado e o quanto me têm feito crescer?
Agradeço aos meus pais que souberam transmitir-me esta paixão pela leitura.
Agradeço aos meus professores que me apoiaram nesta paixão, levando os meus pontos de vista sobre os livros lidos, a discussões animadas e até por vezes divertidas.
Agradeço aos escritores portugueses que souberam conquistar-me (muitas vezes em prejuízo de horas/noites de sono).
Agradeço aos escritores estrangeiros que elevaram a minha imaginação e me transportaram a locais nunca antes imaginados por mim.
Agradeço a todos quantos levam às crianças portuguesas, o livro, a palavra, as histórias e a poesia.
OBRIGADA!
VIVAM OS LIVROS!
BOAS LEITURAS!
Celebra-se hoje o dia Mundial do Livro, como tal não poderia deixar de escrever qualquer coisinha, ainda que curta, a este propósito.
Quem me conhece sabe que desde criança, os livros são os meus companheiros por excelência.
Ainda não sabia ler nem escrever e na minha cabeceira havia livros (que ainda guardo), e que me eram lidos ora pelo meu pai, ora pela minha mãe.
Quando viajo, levo sempre livros comigo. São os meus companheiros inseparáveis e insubstituíveis . Não há como eles.
Neste momento estou a ler Gabriel Garcia Márquez . Um escritor que admiro desde o primeiro livro que li escrito por ele "Crónica de uma morte anunciada".
Neste que estou a ler "Memória das minhas putas tristes", o autor trata o amor de uma forma que me enternece e apaixona.
Não vou, de todo, revelar mais do conteúdo do livro, mas vou aconselhar quem me visita neste cantinho a lê-lo.
Leiam. Este ou outros livros. Há-os para todos os gostos.
Então, boas leituras.
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