A noite vestiu-se de negro. Despediu-se da chuva e alegrou-se. Salpicou a saia com a luz das estrelas, dançou à volta da lua e, sentiu-se feliz.
Tão feliz que nem percebeu a inveja estampada nos rostos das mulheres que a olhavam. Ou percebeu e não lhe atribuiu importância.
Olhou-se no mar e viu a sua bela imagem refletida. Percebeu quão grande era a sua auto-estima. Entendeu, por fim, que era grande, imensa, diferente. Com uma beleza muito própria.
Rodopiou e escondeu-se atrás da montanha. Preparou-se para descansar e, deixou que o dia apagasse os vestígios da sua presença.
Logo, logo, voltaria, invencível...
Recostou-se e adormeceu... e sonhou... e foi feliz, muito feliz!
Choveu toda a noite.
As insónias voltaram.
O cansaço toma de assalto, o corpo e a mente.
A descontração desapareceu, como por magia.
Procurei na "Poesia Completa" de Natália Correia (livro que me foi oferecido pela minha querida amiga Aida, apenas porque lhe apeteceu), algum conforto. Não encontrei o conforto. Descobri este poema:
Outono
Largo silêncio amadurece o Outono
O coração das folhas em letargo.
De alcantilado bosque cai no sono
O parque. Modorra a luz no lago.
E a natureza ali rendida à calma
Escuta, toda ouvidos num nenúfar.
Rumores da Eternidade que a sua alma
Antiga toca numa cana-de-açucar.
Natália Correia
Algo aconteceu, que me levou à conclusão de que não gosto do mês de Setembro nem tão pouco do Outono.... Já sinto saudades do meu mar de Agosto. E, hoje não me apetece valorizar as pequenas grandes coisas da vida!
No relvado, o filhote e a vizinha mais nova, no alpendre, a filhota e a vizinha mais velha. O marido e eu já desistimos.
Os gritos são muitos:
- Eu vi um, eu vi um...
- Viste aquele?
- Eu vi um grande! Tu viste?
Sucedem-se as corridas para onde ninguém os ouça e expressam os seus desejos em voz alta.
- Eu vi... lindo, lindo.
- Ah! Este eu não vi.
- Este era grande.
De novo a correria...
Estão nisto, há pelo menos uma hora. Já acusam falta de desejos, mas não lhes falta a vontade de continuar na rua a olhar para o céu.
Hoje, excepcionalmente, não haverá hora para deitar. Afinal, não é todos os dias, ou melhor não é todas as noites, que se pode assistir a um espectáculo destes. Estão todos demasiado excitados com a "chuva de meteoros".
Não permito, nem por uma fracção de segundo, que ocupes o meu pensamento.
Não permitirei, portanto, que venhas ocupar-me a mente em mais uma noite de insónia.
Nos meus dias, não há lugar para ti; nas minhas noites muito menos...
A noite desceu sobre mim
cobriu-me com o seu manto estrelado
solto,
lindo,
livre,
abandonado.
Entrelacei os dedos
(nas franjas raiadas de luar)
vazios,
frios,
ávidos
por te encontrar.
De ti, nem sinal.
Da noite, o frio.
Do luar, o vazio.
Da solidão, a companhia.
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