Comprei-a no início dos anos oitenta, na Feira da Ladra, em Lisboa. Assídua frequentadora daquele espaço, andei a namorá-la (a ela ou outra igual) durante algum tempo, até que me decidi.
Eram seis da manhã, o despertador tocou. Vesti-me, bebi um iogurte e comi uma ou duas bolachas, desci as escadas a correr e, sempre a correr passei as ruas desertas (no Mucifal era assim, aos sábado de madrugada, não se via ninguém) até chegar ao café. Faltavam ainda alguns minutos para a chegada do autocarro. Entrei e, nem fiz o pedido, logo surgiu no balcão um café e uma nata. Era o habitual. De volta à rua, olhei para a esquerda e lá vinha o autocarro.
Entrei. Sentei-me e adormeci. Acordei quando já estava a chegar à estação.
Comprei o meu bilhete e entrei no comboio. Destino: Rossio. Voltei a adormecer. Acordei com uma barulheira enorme. Olhei para fora, estávamos no Cacém. Imensa gente a entrar, daí a barulheira.
Viagem tranquila até ao Rossio. Aí chegada, dirigi-me à paragem do autocarro, e lá fui eu até à Feira da Ladra.
Não sei porquê, mas gostava daquele espaço.
Percorri o espaço, parando aqui e ali, perguntando preços, regateando, quase nunca comprando... Até que cheguei ao local, ali na subida, do lado direito, à porta, lá estava ela pendurada, a sorrir-me.
Respirei fundo e entrei. Atrevi-me a perguntar o preço. Tinha dinheiro para ela. Finalmente ia levar para casa a mochila verde. O dono da "loja" ajudou-me a escolher uma das melhores. Agradeci-lhe. De saída olhei para uma série de lenços, de rede, camuflados, gostei deles, perguntei o preço. Pena, já não tinha dinheiro para levar um deles. Precisava almoçar e voltar para casa.
Saí porta fora feliz. Já tinha a minha mochila verde tropa. Não cabia em mim de tão contente que estava. Nem ouvi que me chamavam, até que senti um toque no ombro. Olhei espantada e fiquei assustada. Ao meu lado estava o dono da loja. Na mão, tinha um pequeno saco.
- Isto é seu! - disse-me ele
- Não, não é! Eu não tinha nenhum saco comigo.
- Agora já tem. Este! Abra-o... e veja se não é seu.
Abri o saco e os olhos. Surpresa das surpresas, o senhor estava a oferecer-me um dos lenços...
Anos e anos se passaram, quilómetros e mais quilómetros percorridos neste nosso rectângulo à beira mar plantado, histórias e aventuras, viagens de comboio, autocarro, barco, a pé, e como fiéis companheiros e por vezes, única companhia, a minha mochila verde tropa e o meu lenço camuflado...
Fazia frio. Muito frio. De sobretudo, cachecol e luvas, quis, porque quis, sentar-me na esplanada. Nas docas gosto muito mais das esplanadas. Um chocolate quente (a ferver) e os patos a nadarem, indiferentes às águas geladas do Mondego. Quanta paz, quanta tranquilidade... Momento tranquilo e de encontro comigo e com o "meu" rio.
Acordo. A chuva bate forte nas persianas. Não há patos no rio. Nem sequer há rio. Há chuva. Muita chuva. É o acordar, numa manhã de sábado, com a sensação de que se está no local errado.
Coimbra! Quanta saudade...
Sim, tenho saudades.
Mas estas são como as folhas:
Verdes e fortes na Primavera
Laranjas e castanhas no Outono.
De início, marcantes
No topo das àrvores
Depois...
Frágeis pelo chão...
Eram muitas as saudades, eram grossas e abundantes as lágrimas que lhe rolavam pelo rosto. Não sabia como as coisas tinham chegado àquele ponto...
Como fora possível permitir-se a tal ausência?
Como pudera acomodar-se a uma realidade que não era a sua?
Como... como se permitira ficar longe de casa, do rio, do ruído do comboio a rolar sobre os carris, do gemido das guitarras, dos fados sentidos, das ruelas, da cabra na velha torre?
Como?!
Ali, parada, a ver o rio, sentiu que algo ficara para trás. Procurou respostas para cada uma das questões. Os porquês eram abundantes e as respostas escasseavam....
Ah, como amava aquela cidade... como eram suas as águas daquele rio... e como sentia que ali era o seu lugar...
Percorreu a distância entre o Largo da Portagem e a Praça 8 de Maio, com um misto de angústia, saudade, felicidade e insegurança. Entrou na Igreja de Santa Cruz e, rezou. Rezou como nunca tinha feito. Agradeceu o facto de lá estar e, voltou a chorar pela incerteza de um futuro que, por si só, não lhe sorria.
Precisava urgentemente encontrar a alegria de viver.
Regressou ao hotel, entrou no quarto e atirou-se para cima da cama. E, chorou. Chorou tanto que se lhe esgotaram as lágrimas e adormeceu.
Acordou cedo decidida a lutar. Sabia o que queria. Queria ficar ali. Ali, naquela cidade, iria viver o seu presente e projectar o seu futuro. Ali, tinha certeza, seria feliz.
Quinze cravos, vermelhos!
Os teus preferidos.
Um por cada ano da tua ausência... PAI!
mas hoje senti saudade da altura em que deslocava-me a pé, do Mucifal até à Praia das Maçãs (Sintra), numa qualquer despedida de verão e a abraçar o Outono.
Saía de casa de manhã, não muito cedo, percorria as ruas empedradas, gastas e escorregadias, parava na papelaria via as revistas, voltava a parar no café, para a minha habitual nata e a minha bica e, seguia viagem até Colares. Aí surgia sempre a dúvida: ir como, a pé? De autocarro? De eléctrico? Decidia-me sempre por ir a pé. Dava-me muito mais prazer.
Passava pelas vivendas, algumas já fechadas, porque os donos já estavam de volta a Lisboa, outras ainda com crianças a brincar nos jardins, e ia, devagar, até à Praia das Maçãs.
Atravessava a praia quase deserta, não fora alguns, que como eu teimavam em prolongar o verão, a praia estaria mesmo deserta, e sentava-me ao fundo, naquela rocha lisa e ligeiramente inclinada, a receber de bom grado os salpicos das ondas que rebentavam na mesma.
O sol já não estava tão quente e os salpicos eram ainda mais frios. Mas faziam-me sentir bem. Eram carícias do mar...
Sim, hoje não sei porquê, senti saudade...
E, por esse motivo, fiz a mim própria a promessa, que este Outono irei até à Praia das Maçãs, não a pé, nem do Mucifal, mas irei, receber os salpicos que tão bem me faziam sentir e que por motivos vários já não recebo há muitos, muitos Outonos.
Esta noite...
não te vi,
não te beijei,
não te toquei,
não te senti,
não te abracei,
não te deitaste ao meu lado...
Esta noite...
senti...
saudades!
Estou na cidade da minha paixão. COIMBRA. Adoro esta cidade.
Hoje, apesar do tempo algo "arrepiado" fartei-me de andar a pé, pelos sítios onde gosto de estar. Senti-me bem ao fazê-lo. Matar as saudades, a família, os amigos, as recordações, as saudades, a nostalgia. Neste momento sinto que talvez seja a despedida...
Tomar o café no Santa Cruz., é maravilhoso. Apreciar as misturas, gente, música, odores, culturas.
Tão bom.
Logo vou para o Porto.
Red Bull, amigos, novamente as recordações...
Nota: Quando voltar a casa, prometo responder aos comentários.
Beijos a todos.
Veio, como sempre vem, subtil e silenciosa. Apoderou-se daquela parte de mim, emotiva e sensível, e deixou-se lá ficar.Tentei expulsá-la mas sem sucesso. Concluí que não posso lutar contra ela. Pensei que o melhor seria tentar a via do dialogo. Explicar-lhe que não podia chegar assim e deixar-me neste estado. Disse-me que compreendia, mas que tinha uma missão a cumprir, que sabia não ser fácil para mim, que era até doloroso demais, no entanto era necessário. Vinha obrigar-me a sentir e a reflectir sobre o que sentia, levar-me a atingir um patamar de reflexão claro e exaustivo, uma percepção real sobre tudo, em especial sobre ela própria e a razão da sua existência.
Remeti-me a um silêncio profundo.
Fui até ao alpendre e deitei-me na rede. Levei-a comigo. Deixei-me ficar quieta, apenas embalada pelo vento fresco de final de tarde e, reflecti. Ela obrigava-me a isso. Oprimia-me entre o sentir e o reflectir, atingi a percepção total e absoluta da permanência dela ali.
Sim. Percebi.
Ela estava ali, comigo, como única companhia de um final de tarde, porque tu exististe na minha vida, foste importante e mereceste o mais nobre dos meus sentimentos: o meu amor. E, estava ali também, para me dizer que tinha ocupado o lugar desse sentimento.
Sabes, sabes quem é ela?
Não?!
Já calculava...
É a SAUDADE!
Estou verdadeiramente cansada da hipocrisia !
Porque raios andamos a tentar tapar o sol com a peneira?
Porque sentimos vontade de parecermos o que não somos?
Porque sorrimos quando, na realidade, queremos chorar?
Porque dizemos que temos de ser bem educados, e corteses, quando efectivamente o que fazemos é escondermo-nos atrás de uma falsa película que, quase consegue fazer-nos esquecer quem verdadeiramente somos?
Estou cansada. Não quero compactuar com hipocrisias e falsos valores.
Eu sei... por vezes sou rude, dura, até mesmo cruel. Mas, sou acima de tudo VERDADEIRA!
E, como diz Pedro Barroso, "...se houver alguém que não goste, não gaste, deixe ficar..."
Deixem ficar mesmo! Porque apenas quero viver a vida que é minha. Fi-lo até agora e pretendo fazê-lo sempre e, à minha maneira.
P.S. Um abraço ao Pedro Barroso (com quem já não estou há imenso tempo, tanto que já perdi a conta dos anos...) e para todos os habitantes de Riachos.
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