Fazia frio. Muito frio. De sobretudo, cachecol e luvas, quis, porque quis, sentar-me na esplanada. Nas docas gosto muito mais das esplanadas. Um chocolate quente (a ferver) e os patos a nadarem, indiferentes às águas geladas do Mondego. Quanta paz, quanta tranquilidade... Momento tranquilo e de encontro comigo e com o "meu" rio.
Acordo. A chuva bate forte nas persianas. Não há patos no rio. Nem sequer há rio. Há chuva. Muita chuva. É o acordar, numa manhã de sábado, com a sensação de que se está no local errado.
Coimbra! Quanta saudade...
Nem queria acreditar! Acordar às dez horas?! Já nem me consigo lembrar-me há quanto tempo isso aconteceu, pela última vez..
Não acordei de duas em duas horas, como habitualmente. Dormi seis horas seguidinhas, acordei bebi àgua, voltei a adormecer e acordei às dez horas.
E, até sonhei. Um sonho parvo que me deixou a rir às gargalhadas.
Sonhei que estava com um grupo de pessoas, das quais não me recordo do rosto, e que disse uma frase estúpida do tipo:
- O segundo foi o oitavo!
Pode? Que estúpidez.
Gargalhada geral.
Depois sonhei que as pessoas, quando se cruzavam na rua, ao invés do habitual "Bom dia!", diziam:
- Multibanco!
- Multibanco!
Aí, fui eu que acordei às gargalhadas.
Resultado? Estou bem disposta. Estou mesmo bem dsposta!
Não me recordo de ter atravessado a estrada, nem de ter descido os degraus, nem tão pouco de ter sentido a areia fria sob os meus pés descalços, mas o que é certo é que estava ali, sentada, na praia da Figueira da Foz, contigo ao meu lado, a receber os primeiros raios de sol.
Ao meu lado esquerdo estão uma sandálias, minhas, mas que já não uso há cerca de vinte anos. Ao meu lado direito estás tu.
Olhas-me com aquele olhar entre doce e quente, que eu tanto gosto. Abraças-me forte e, numa voz rouca, sussurras-me ao ouvido: AMO-TE!
Não te respondo. Deixo-me ficar assim, quieta, a saborear o momento. Perfeito, diria eu. O sol dourado, o mar, tu e eu...
Também te amo, respondi. Abraças-me de novo e ficamos em silêncio. Há momentos, como este, em que o silêncio em bem-vindo .
Ao longe um ruído agudo, quebra a magia do momento. Maldito despertador. Estendo a mão e silencio-o.
Ergo os braços no ar e abraço o vazio... Foste a primeira pessoa que abracei esta manhã.
Desci a escada da casa da quinta, lentamente. Senti o leve roçar da pequena cauda do meu vestido, em cada degrau.
Intuía que virias. Quando? Não sabia.
Mas sentia-o. Consegues perceber?
Prendia o meu olhar, lá longe, na curva da estrada de terra batida.
Tu não aparecias.
Percebi que a transpiração das mãos aumentava. Havia por todo o meu corpo um leve tremor. Dentro do peito, o coração aumentava e diminuía de tamanho a um ritmo descontrolado.
Não conseguia esconder a angústia. E tu não aparecias...
Eis que surge uma sombra na curva da estrada.
Ao aproximar-se consigo reconhecer um belo cavalo, mas não distingo o cavaleiro.
Talvez fosse o primo Zé. A mãe tinha dito que ele viria.
Mas não, não podia ser o primo Zé. O meu coração não bateria assim...
Agora sim, reconheço-te o porte. És tu! Finalmente.
Paraste o cavalo e desmontaste com a elegância que te é tão peculiar. Olhaste-me e eu senti o tempo parar. Não era preciso mais nada. O meu dia estava completo.
Roçaste, no meu rosto, os teu dedos longos, numa leve carícia. Olhaste em volta, soltaste a fita que prendia o meu chapéu, por baixo do meu queixo e inclinaste-te para mim. Não consigo mover-me, apenas fico a olhar-te, assim, tão próximo de mim. Acho que já nem respiro. Sinto um frio percorrer-me as costas, e tu beijaste-me...
... acho que desmaiei! Tudo à volta, rodou. O chão faltou e tu envolveste-me num forte abraço.
Com um rubor abrasador na face, voltei o meu rosto para ti. Timidamente e quase inaudível, pedi que voltasses a beijar-me. Sorriste, beijaste-me e eu senti-te e tu sentiste-me.
O nosso olhar, depois do beijo, revelou tudo o que as nossas bocas calaram.
Entrelaçamos as nossas mãos e caminhamos lado a lado, em silêncio, com a certeza feliz que o futuro se tinha desenhado a cores naquele momento.
Entraste no meu sonho
Devagar
Olhaste-me
Sorriste
Mergulhei no teu olhar
Qual abismo negro e profundo
Senti nos meus lábios,
a brisa doce e terna
do teu beijo.
Abraçaste-me
Abraço quente e forte.
Acordei!
Ao meu lado, a cama vazia
A envolver-me não estavam os teus braços
Só o frio gélido de uma noite de inverno.
Fechei os olhos...
Não quero sentir a realidade desta noite fria
Quero, prefiro, sentir o utópico prazer
Quente e forte do teu abraço.
É fim de semana. Tal não invalidou que acordasse à hora habitual: 6 horas.
Ao meu lado a cama está vazia e fria.
O meu pensamento, como sempre, voa até ti.
Algures, no teu quarto, na tua cama, tu dormes. A envolver-te estão dois braços de mulher. Não sei o que sinto. Se calhar... nada. Ela ocupa o lugar que é seu por direito.
Viro-me e abraço a almofada, como se fosse o teu corpo.
Fecho os olhos e solto livre o pensamento.
Deito suavemente a minha cabeça no teu peito. Abraço-me e aninho-me a ti. Enrosco-me ainda mais...
Abres os olhos e eu beijo-te. Primeiro os olhos, depois os lábios. Então recebo de uma forma generosa o calor da tua língua.
E, recebo mais, e dou-me por completo ao prazer de te ter... Nem que seja apenas nos meus sonhos.
. Acordar
. Abraço
. De dois em dois o caracol...
. O que alguém escreveu sob...
. Saudade
. Pensamento (meu) sobre o ...
. Abraço
. Sim...